domingo, 18 de outubro de 2015

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a vida tem gosto de citrino
ora doce ora amargo
e a estupidez de sentir que não é assim.

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a boca sabe a mofo em fruta.
a vida sabe a desilusões em luta.


domingo, 14 de junho de 2015

opia, palavra nova

vi que viste;
abraçaste com pressa a minha mão
abraçaste bruscamente com os dedos a minha mão direita
passeaste os olhos e fixaste-os no palco
para me desviares o olhar e eu seguir o teu e pasmarmos juntas
.
conseguiste
um desvio conjunto e fugiste com habilidade à finta dos meus olhos
e assim permaneceste: tão concentrada estavas na dança do palco
que nem reparaste que continuei a fitar-te;
cantavas a canção das bailarinas do palco
a voz fina a boca pouco aberta, vergonha, disfarce?
mas eu com a mão direita húmida e os lábios a tremer
mas não de frio
eu
- e as lágrimas quase a verter -
num ápice para não haver voltar atrás
ginastiquei o pescoço e olhos de mocho antes de os fecharmos
desta feita os lábios mais desinibidos que nós.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

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estás dita e escrita por estas mãos
nos cadernos da minha pós-adolescência.
caíste às gotas espessas de tinta sem sequer seres consultada.

a posteridade saberá de margaridas - flores tenras e mal amadas -
mas é bem feita.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

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inquietum


no madrugar matinal,
um interlúdio de falta de ar
ignora as cores do sol
e o céu rosado
para deixar sem desculpas
a diária erosão do corpo.

terça-feira, 19 de maio de 2015

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do dicionário de sinónimos letra 'e' (1):

efabulação: novela.
enguiçador: agoureiro.
engulhento: enjoativo, nojento.
entressonhar: devanear, fantasiar.
escarabocho: borrão.
esfriado: amortecido.
esmifrar: depenar.
espacear: adiar.


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"I'm Nietzsche, bietzsche!"
 
- da internet.

sábado, 16 de maio de 2015

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na T15 da torre B
o ar morno
e respirado
parece amolecer os reféns de estudos europeus.
mas este ar
mole e gorduroso
tem em mim efeitos bipolares
quando
ora sinto falta de ar
e quero descer ao pátio
ora a falta de fôlego é
indício de desejo,
amostra do querer,
do toque que nunca haverá
e da memória do olfacto sonhada
que é ela leve, lenta
e não basta
também é morna.
de vestido branco
e
apesar da pele transparente
de onde se notam
veias
será húmida às mãos.
como é bonita
a pele atravessada pelo tempo,
simples e bonita.

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foge a alça fluorescente
e fica o ombro desnudo sem dares conta
mas não corriges, não insistes.
só vês luzes,
estás na pista.
só vês sombras,
bolas de espelhos.
tu na pista e és de riscas.
são finas as riscas,
listras magras como as minhas.
e a certa altura alguém diz:
olha olha estão de igual!
é para que vejas e  saibas
que agora somos duas rainhas do Baile.

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o nervo guardado no bolso
dá descanso ao ventre por umas horas
e recupero o fôlego
dos dias mornos de setembro
(que me abraçam como sentir
o conforto de um cachecol ou faixa de lã
atado na lombar).

os dias amáveis de setembro
serão
em breve para todos
mas por agora
são para nós
o som das travessias
uma e outra
e outra
e outra
e duas horas consecutivas
no estúdio branco.

terça-feira, 14 de abril de 2015

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o corpo em esforço quadripartido.
a secção superior:
de franja nos olhos
e riso artificial
- rio artificial -
o peso oscila e tento disfarçar
a dormência.
a secção do meio:
de um tronco móvel
e uma planície de costas
entre as omoplatas.
a secção inferior
constitui-se de
ossos e músculos
mais conhecidos por pernas
que fogem da bacia e da pélvis.
assim sozinhas são vítimas dos quadríceps.
por fim as patas:
as minhas tendem a querer a independência
e luto pela unificação todos os dias.
a toda a hora os movimentos circulares
espicaçam
o sangue.
imploram-lhe que flua.

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a propósito do perfume,
motivo de ilusão e catalisador de tesão,
ocupas o top-três
das confusões do amor.
o número
a medalha de ouro é do dito
e dos sons
e a de prata  pertence
ao encantamento:
a construção intelectual de admiração
pelo objecto do amor
mais conhecido
por
ser alado.


quinta-feira, 26 de março de 2015

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fica em março o casacão,
as peles, as lãs,
a hibernação.
despejo os cachecóis na arrecadação
acabou-se o perigo de constipação.

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considerações
monólogo para ontem
a falha

falas da luz
de abraçá-la e olhá-la
e estar disponível para recebê-la.
falas tanto
dizes que a luz te salva
que vês a luz, que gostas dela
e apelas para que todos te oiçam
e entendam o teu amor
a força do teu amor.
falas da boa (que és tu)
és tão boa!, diria eu bêbeda na plateia.
um grito desses tipo riso sarcástico
é
também irónico mas
é
principalmente
um apelo triste
de mim para ti.
um apelo para que me vejas
porque eu sou a luz.
tu a excepção mas eu a luz.
o problema é
que te diriges a uma luz que é muda
que não responde.
não acena em concordância e
também não argumenta contra.
e eu sou uma luz com voz.

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considerações sobre ontem

a minha narrativa é incompleta
e eu só sei viver assim.
mais simples seria acreditar numas palavras escritas por mim.
assim fazer a pergunta e ao mesmo tempo dar a resposta
e logo responder-me sem iniciar um jorrar de mais e novas perguntas.
mais simples seria; mas eu não gosto de contar fábulas.
e sabendo que o passado também ele é
construção constante a partir do presente
não me deixo seguir por essa via,
via fácil, via simples,
porque recontar o passado muitas vezes
significa
contar um conto e acrescentar um ponto
e é como trair aquela que fui
no ano anterior, no mês anterior, no dia de ontem.

domingo, 15 de março de 2015

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um dia de descanso
longe da metrópole
transforma-se logo
em longas férias
grandes,
motivo de rissóis
intercalados
por finos.
mas finito o aperitivo,
segue-se a açorda
de camarão
para entreter a digestão.

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gostarás mais de barbas
e maçãs de adão
ou ter-me-á saído
a sorte grande
(?)

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participar do festim
em canas de senhorim.

(peixes)

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onde passear
é o dilema
de quem não tem
onde estar.

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da dança (e do sexo)

sobe desce
sobe desce
a pélvis
mexe
mexe

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amada:
do amor sem amante.
amar sem amante.

amante:
aquela com quem se ama.

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do não ter

comida
bebida
cigarros
trabalho
coragem
músculos
amante.

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leva-me por favor sem pagar.


(grito interior ao táxi da noite de 11 de março)

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do ter do ser
de tudo ter e nada ser

o ter e o não ser
ou
ser durante muito tempo
só se: ter durante algum.
ter algum tempo
para ser
e assim ser durante
mais tempo.
chegar ao tempo de já
não ter mas ainda ser.



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o primeiro frisson de março
foi ser galada à entrada.
um copo e um segundo,
tiras-me outro fino?
tou ficando sem graça...
e diz ela:
nunca se sabe as surpresas
que nos reserva a vida.
em tom de fuga
deslizo
e já estou à porta.
acendo um cigarro:
porque já basta de filosofar
e eu não sei como galar.

sexta-feira, 6 de março de 2015

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aulas à tarde (3):

Kant deixa-me ansiosa.

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aulas à tarde (2):

a fome aperta e o sono instala-se.

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aulas à tarde:

o acto de almoçar está ultrapassado.

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o fim da esplanada é:
ilhas no chão
e
sobrepopulação nos bancos de pedra.

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o amor não é
um
animal amestrado.


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da brisa de sons
do piano da sala ao lado:
grande sorte!
da apatia e do aborrecimento
da minha aula
imagino paisagens.
vejo o martelar determinado
dos dedos nas teclas.
a professora lamenta.



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o movimento entusiástico
das tuas pernas
faz tremer as minhas
antes quietas.
agora são imagens
sem som
as que vejo.
danças, danças, ao som de nada.
baralhas as pernas ao som do meu coração
histérico.

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apresentações orais
são como reencontrar
ex-namoradas.
o corpo é um tremor
inegável e previsível.
fica-se mudo e
quando se acaba fuma-se
muito.


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o fenómeno curioso dos patos
quando decidem passear-se
entre as pessoas.
o fenómeno primaveril
de adormecer no meio da cidade
porque há pedaço de relva livre.
o jardim urbano
é
uma ilha
para o corpo cansado.

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ainda não está calor,
ainda a roupa não é leve enfeite.
mas
o sol mais quente,
o sol mais longo.
de repente a relva seca é
uma novidade e
sem esforço imagino abril e maio,
de daisies por toda a parte.

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a imagem que só eu tenho da tua larga cama:
será,
em breve,
vaga.

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o semáforo laranja:
a luz intermitente de cada vez que apaga parece que não acende mais.

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a liberdade é um braço atravessado nas tuas costas.




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convicção sobre o vazio:
o espaço e o tempo são conceitos que pairam...
sem eles tudo será imprevisível...



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camada plana e gelada
de imagens:
recordações vincadas dos lados.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

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sinto o corpo lânguido,
lento e quente.
o fígado, de muitas "birras"
estrangeiras,
imagino esparregado.
mas ó rapariga,
comes tanto! bebes tanto!

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ontem sonhei acordada.
no banco de trás do carro
fecho os olhos
pousando a cabeça no teu ombro:
lembro-me que não estou só.
tenho medo que me consoles.
medo que o cheiro do teu corpo seja a coisa simples.


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ma ligne de chance


posto na mesa,
na rua,
no bolso,
no taxi e no quarto,
o abraço pegajoso:
húmido de tanta lealdade.
um exagero!
de amor compomos o toque.
de amor não nos conseguimos abandonar.
não podemos abandonar-nos!
(e tu nunca me deixas ao frio)


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

danças
quando
cantas
quando
pisas
quando
sentes
quando
viras
quando
gritas
quando
choras
quando 
pensas
quando
saltas
quando 
assaltas
quando
ris
quando
beijas
quando
tocas
quando
fodes
quando
amas
quando
foges.

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o estado das coisas

o cume do nosso encontro é uma vaga de calor no jardim mais próximo.
a noite do nosso amor é: linguados na rua
e um taxi nos subúrbios.
de noite a tua voz sabe a fumo, fico zonza,
suaviza os nervos.
o fim da vida junta é uma sala desarrumada
e o teu roupão a espreitar da porta.
ainda o fim da vida junta é uma torrada
pingada de lágrimas, sozinha, mal comida.
à luz do nosso amor eu respondo:
fiquei morna e fica-me mal.

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dos olhos de raposa

és ruiva, és castanha,
és beige.
olhas-me raposa
e eu imóvel.
e os pulmões doem,
sou brusca,
sou bruta, ponho-os a inspirar.
faço-os respirar
para não enfraquecer aos teus olhos,
(para não deixares de me olhar),
raposa.
raposa:
se aos teus olhos
adormeço,
desfaleço,
fico transparente
e desapareço!

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remate de mão fina.
o não não serve,
quero fungar com razão
(chorar sem vazão)
mas só no fim.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

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a rapariga
usa calças roxas,
camisa de ganga.
argolas grandes douradas,
orelhas em pandã com os cabelos de
caracóis assimétricos.
a rapariga
olha um tipo,
um seu igual,
calças de ganga,
"Ei! um cigarro?", ela pergunta,
já é o décimo a quem ela pergunta,
"já és o décimo a quem eu pergunto..."
mas o tipo de ganga vai de headphones.
ela tenta:" Ei!", "Ei! Tu!",
mas ele está sozinho
(ela ainda mais).
a rapariga tem azar.
inspira o ar,
restos de cigarro
e escapes de carro,
em pé na paragem,
(está quase a viagem)
aborda a madame ao seu lado,
sabe quanto tempo falta para o mundo finalmente acabar?
e a madame:
filha o autocarro deve estar mesmo aí a passar.


como ser dread

está a chover.
vou a correr e caio,
rompo as calças
e à chuva fico na moda.
estou no chão
à chuva
e estou na moda.
fico na moda,
à chuva, os joelhos rotos.
a cara colada à calçada molhada.


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a tortura
do corpo hormonal.
o bicho mensal
arranca-me a maciez.




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esquiços.
vultos dos alunos
de estudos europeus.
olho a professora e vejo
humidade,
como acabada de sair do banho,
a tontura da água quente.

anjo (de ti)

o garfo de osso
o mato é grosso
o sonho, um poço
não quero, mas ouço.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

daisy a tua mãe.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

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não foi susto, eu já sabia.
mas as lágrimas a correr
sem ser susto.
um  fino cordel embrulha os dois pulmões
e ficam assim
sufocados
lembrados da tua pele bucólica.

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espalhas sombras quando mexes,
mexes sombras quando danças,
e eu esforço os olhos à noite,
esforço-me para te olhar,
quando é noite.

desconhecida és
dos teus próprios membros,
dos teus próprios reflexos,
do teu próprio sexo,
e do teu corpo
quando é noite.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

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para eles estás numa caixa.
lamentável,
ninguém sabe o que fazer contigo.

eu contesto todos.
a ti e a eles.
eu sou a heroína.
e repito: que sou a tua heroína.
e num conto improvável,
ao meu colo - e ao meu beijo
acordas do teu sonho
e finalmente
começas a viver.

sábado, 3 de janeiro de 2015

afinal és tu a rainha do gelo.
ice queen. i love you ice queen.